Ex-chefe do Ibama em Rondônia é acusado de desviar armas e lancha apreendidas; uma arma teria ido para líder do Comando Vermelho

PORTO VELHO — Um escândalo envolvendo desvio de armas, munições e uma lancha apreendidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Rondônia colocou sob os holofotes N. T. I. L. Júnior, ex-chefe do Núcleo de Fiscalização Ambiental do órgão. Investigado pela Polícia Federal (PF) por peculato (desvio de recursos públicos), ele é acusado de retirar 48 armas artesanais, 26 lotes de munição e uma embarcação do patrimônio do Ibama em dezembro de 2023, sob a falsa justificativa de uso em um treinamento da PF. Os materiais nunca foram devolvidos.

A trama ganhou contornos mais sombrios quando uma das armas desaparecidas foi encontrada, em janeiro de 2025, durante operação da PF na casa de J. H. de Souza, identificado como líder do Comando Vermelho no estado. A conexão entre o ex-servidor público e a facção criminosa acendeu um alerta sobre possíveis conluios entre agentes do Estado e organizações ilegais na região.

Operação da PF expõe esquema
Em ação realizada no início deste ano, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na residência de L. Júnior, onde foram encontrados materiais de uso restrito, incluindo munições escondidas sob o colchão. O ex-servidor foi preso em flagrante, mas liberado após pagar fiança de R$ 15 mil. A defesa de L. Júnior não se manifestou publicamente até o fechamento desta reportagem.

L. Júnior deixou o Ibama em setembro de 2024, após aprovação em concurso público para Analista em Desenvolvimento Social na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SEAS) do governo de Rondônia. O fato de o ex-chefe de fiscalização ter migrado para outra pasta estadual, mesmo sob investigação, levantou questionamentos sobre falhas nos processos de checagem de antecedentes no serviço público.

Ibama abre processo disciplinar
Em nota, o Ibama informou que instaurou um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar as irregularidades. “O Instituto não coaduna com condutas ilícitas praticadas por seu corpo funcional e apoia integralmente as investigações”, afirmou a instituição. A PF, por sua vez, mantém sigilo sobre detalhes do caso, mas confirmou que as investigações avançam para rastrear o destino final dos demais equipamentos desviados.

Conexão com o crime organizado
A descoberta de uma arma do Ibama em posse de um líder do Comando Vermelho acendeu o debate sobre o uso de recursos públicos apreendidos para abastecer grupos criminosos. Especialistas em segurança ouvidos pela reportagem destacam que o caso pode indicar uma infiltração preocupante de facções em órgãos de fiscalização, estratégia comum para obter armas e logística sem levantar suspeitas.

“Isso não é apenas corrupção, é uma ameaça à segurança nacional. Se confirmado, o vínculo entre um servidor ambiental e o tráfico expõe brechas críticas no controle de bens apreendidos”, analisa Raquel Mendes, pesquisadora em Segurança Pública da Universidade Federal de Rondônia.

O que diz a legislação?
Peculato, crime atribuído a L. Júnior, prevê pena de 2 a 12 anos de prisão, além de multa. Caso se comprove o repasse de arma a organização criminosa, as penas podem ser agravadas. Enquanto a PF trabalha no caso, o governo de Rondônia limitou-se a afirmar que “respeita o andamento das investigações” e que o servidor está em exercício “sob acompanhamento jurídico”.

O caso reforça a urgência de auditorias rigorosas em órgãos públicos, especialmente na Amazônia, onde o combate a crimes ambientais frequentemente se entrelaça com redes de ilegalidade.

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Fonte: Painel Político com informações do Portal Metrópoles.